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Desabafo






Ninguém muda ninguém; ninguém muda sozinho;nós mudamos nos encontros.Simples, mas profundo,preciso.É nos relacionamentos que nos transformamos.Somos transformados a partir dos encontros,desde que estejamos abertos e livres para sermos impactados pela idéia e sentimento do outro.Você já viu a diferença que há entre as pedras que estão na nascente de um rio,e as pedras que estão em sua foz?


As pedras na nascente são toscas,pontiagudas, cheias de arestas.À medida que elas vão sendo carregadas pelo rio sofrendo a ação da água e se atritando com as outras pedras,ao longo de muitos anos,elas vão sendo polidas, desbastadas.Assim também agem nossos contatos humanos. Sem eles, a vida seria monótona, árida.A observação mais importante é constatar que não existem sentimentos,bons ou ruins, sem a existência do outro,sem o seu contato.Passar pela vida sem se permitir um relacionamento próximo com o outro,é não crescer, não evoluir, não se transformar.


É começar e terminar a existência com uma forma tosca,pontiaguda,amorfa.Quando olho para trás,vejo que hoje carrego em meu ser várias marcas de pessoas extremamente importantes. Pessoas que,no contato com elas,me permitiram ir dando forma ao que sou, eliminando arestas,transformando-me em alguém melhor,mais suave,mais harmônico,mais integrado.Outras,sem dúvidas,com suas ações e palavras me criaram novas arestas,que precisaram ser desbastadas.


Faz parte...


Reveses momentâneos servem para o crescimento.A isso chamamos experiência.Penso que existe algo mais profundo,ainda nessa análise.Começamos a jornada da vida como grandes pedras, cheia de excessos.Os seres de grande valor, percebem que ao final da vida, foram perdendo todos os excessos que formavam suas arestas,se aproximando cada vez mais de sua essência,e ficando cada vez menores, menores, menores...


Quando finalmente aceitamos que somos pequenos,ínfimos,dada a compreensão da existência e importância do outro,e principalmente da grandeza de Deus,é que finalmente nos tornamos grandes em valor.


Já viu o tamanho do diamante polido, lapidado?


Sabemos quanto se tira de excesso para chegar ao seu âmago.É lá que está o verdadeiro valor...Pois, Deus fez a cada um de nós com um âmago bem forte e muito parecido com o diamante bruto,constituído de muitos elementos,mas essencialmente de amor.Deus deu a cada um de nós essa capacidade,a de amar...Mas temos que aprender como.Para chegarmos a esse âmago,temos que nos permitir,através dos relacionamentos,ir desbastando todos os excessos que nos impedem de usá-lo,de fazê-lo brilhar.


Por muito tempo em minha vida acreditei que amar significava evitar sentimentos ruins. Não entendia que ferir e ser ferido, ter e provocar raiva,ignorar e ser ignorado faz parte da construção do aprendizado do amor. Não compreendia que se aprende a amar sentindo todos esses sentimentos contraditórios e os superando.Ora, esse sentimentos simplesmente não ocorrem se não houver envolvimento...E envolvimento gera atrito.


Minha palavra final: ATRITE-SE!


Não existe outra forma de descobrir o amor.
E sem ele a vida não tem significado.
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Bons momentos




Enquanto escutava algumas musicas no youtube lembrei de alguns fragmentos da minha infância.
Minha mãe gostava de dançar, e queria que eu seguisse os mesmos passos. Entrei em várias modalidades de dança como ballet, jazz e outros que não lembro, mas não levava jeito (a dança nunca foi meu forte, mas arriscava uns passinhos, e fiz um esforço pra adaptar as aulas)essa minha passagem pelo mundo da dança durou alguns anos mas eu e minha mãe chegamos a conclusão que não era o meu forte, mesmo com toda boa vontade da minha parte. Mas consigo perceber que ajudou na diminuição da minha timidez, foi o primeiro passo para minha mudança,onde comecei a perceber aquilo que queria ou achava que queria.
Foi nesse estágio da minha vida que a musica chegou. Comecei a ter contatos com instrumentos musicais e isso aguçou todos os meus sentidos e sensações. Percebi que gostava de ouvir musicas era tudo muito mais prático conseguia sentir na hora as sensações que ela me proporcionava. E foi assim que comecei a trabalhar a minha sensibilidade e intuição para determinados sons que ouvia. Enfim, chegou a minha realização, meu momento de liberar toda energia contida em meu ser.
Mas voce que esta lendo esse post deve estar se perguntando ... pq ela resolveu contar isso?!!!


Ontem estava escutando a musica da Irene Cara What Feeling do vídeo acima , e foi inevitável não lembrar desses momentos da infãncia. Essa musica me passa uma sensação muito boa, e resolvi dividir com voces esses momentos de adaptação com modalidades que não dominava e na verdade não domino, mas que abriram portas para conhecer um outro mundo, os das sensações, a sublime arte do desenvolvimento auditivo ligadas a todo um percurso e história de vida.
Chega a ser difícil criar uma definição para a música mesmo ela sendo conhecida mundialmente, cada um tem um conceito sobre ela. Mas o importante é essa interação físico, emocional que ela nos proporciona;


Segue abaixo a Tradução
Primeiro, quando não havia nada a não ser, um sonho ardente e lento que o seu medo parece enconder nas profundezas da sua coinciência.
Quando sozinha, chorei lágrimas silenciosas cheias de orgulho em um mundo feito de metal, feito de pedra. Bem, quando eu ouço a música, fecho meus olhos, sinto o ritmo, me deixo levar, dou tudo de mim.
Que sensação.
Continue acreditando.
Eu posso ter tudo isso, agora estou realizando o meu sonho.
Acredite nos seus sonhose faça-os se tornarem realidade.
Imagens se tornam vivas, você também pode alcançar os seus sonhos.
Agora, eu ouço a música,fecho meus olhos, sou o ritmo.
Em um instante, isso me faz dartudo de mim.
Que sensação. Continue acreditando.
Eu posso ter tudo isso, agora estou realizando o meu sonho.
Acredite nos seus sonhose faça com que eles se tornem realidade.
Imagens se tornam vivas, você também pode alcançar os seus sonhos.
Que sensação.
Que sensação.
SOU A MÚSICA AGORA Continue acreditando.
SOU O RITMO AGORA . Imagens se tornam vivas, você também pode alcançar as suas paixões. Que sensação.
VOCÊ PODE REALMENTE TER TUDO ISSO. Que sensação.
IMAGENS SE TORNAM VIVAS QUANDO EU CHAMO. Eu posso ter tudo isso.
EU POSSO REALMENTE TER TUDO ISSO. Ter tudo isso.
IMAGENS SE TORNAM VIVAS QUANDO EU CHAMO CHAMO, CHAMO,CHAMO,CHAMO .QUE SENSAÇÃO.
Eu posso ter tudo isso. CONTINUE ACREDITANDO. Continue acreditando.
ACREDITE NOS SEUS SONHOS. FAÇA-OS SE TORNAREM REALIDADE.
Faça-os se tornarem realidade. QUE SENSAÇÃO. Que sensação. CONTINUE ACREDITANDO...





Arrastem as cadeiras, respire fundo e solte toda sua energia.

Canção: Flashdance… What A Feeling
Intérprete: Irene Cara
Filme: Flashdance
Ano: 1983 ( Uauuuu)
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Simbolos e Sonhos




Todas as noites quando dormimos, um grande palco descortina-se e desenrolam-se enredos e dramas dos mais inusitados. Temos oportunidades de vivenciar estórias fantásticas, partes não vividas de nós mesmos, diversificados papéis, aventuras, romances, podemos travar batalhas, viajar no tempo para o passado e futuro, para outras civilizações, ou planetas, para o centro de nós mesmos. É possível realizar fantasias e desejos reprimidos em estado vígil, experienciar situações aterradoras. Podemos ser vítimas e algozes , vencedores e perdedores, gerar a vida, matar e experimentar a morte, e tudo isso com bastante realismo. As reações e alterações físicas que podem se manifestar durante um sonho não deixam dúvidas quanto a isso.


Num pesadelo por exemplo, aumentam os batimentos cardíacos e a freqüência respiratória, podemos apresentar sudorese. Acordar é um imenso alívio.
Na história, nos mitos, na religião, antropologia, sociologia, arte, temos inúmeros registros de sonhos como mensageiros de divindades, influenciando e determinando a conduta de governantes, de comunidades, inspirando artistas e cientistas, profetizando grandes acontecimentos.


Nas sociedades primitivas os sonhos eram tão importantes que a primeira atividade do dia era compartilhar os sonhos coletivamente. Nas culturas da antigüidade edificavam-se templos próprios para sonhar, pois conferia-se aos sonhos um poder de cura, uma fonte de verdades profundas. A visão de mundo baseada no sistema de valores Newtoniana / Cartesiana, onde só é real o que pode ser explicado e comprovado por leis mecânicas, relegou os sonhos ao âmbito da subjetividade, da irracionalidade, não merecendo portanto serem levados em consideração.


Freud em 1900 recupera o valor do sonho ao dimensioná-lo como realização de desejos e um caminho para a compreensão do inconsciente. Jung amplifica a importância do sonho no processo psicoterápico ao conceituá-lo como mensageiro de cura, sabedoria intuitiva do inconsciente, mecanismo de auto- regulação da psique, expressão do inconsciente coletivo.


Na psicologia Transpessoal , a interpretação de sonhos é bastante utilizada na prática clínica. Os vários personagens que neles aparecem, em suas variadas ações, revelam partes do próprio sonhador, a forma como ele está conduzindo sua vida, e principalmente, os estados de consciência presentes.


Segundo Sri Aurobindo( nascido em Calcutá em 1872, o grande renovador da yoga e fundador de uma escola filosófica) durante o sono manifesta-se uma consciência onírica mais ampla, diferenciada que dedica-se a novas atividades interiores. Quanto mais cultivamos o nosso ser interior, mais os sonhos ganham realidade e significado.


Na atualidade inúmeras pesquisas têm sido realizadas em relação a sono e sonhos e comprovam, o que há séculos, os primitivos já sabiam. Esclarecem que os sonhos são necessários para a manutenção da saúde e equilíbrio emocional. Pessoas que são impedidas de sonhar manifestam instabilidade, dificuldade de concentração, ansiedade e agressividade.


Os sonhos, na concepção de Jung, expressam um "auto-retrato espontâneo, em forma simbólica, da real situação do inconsciente"( Obras Completas 8). Evidenciam uma situação específica e imediata de nossa vida. Os vários personagens colocam em foco as várias "personalidades" que coabitam em nós e compõem a nossa totalidade. As imagens, e personagens do sonho devem ser consideradas como partes do sonhador e de sua dinâmica interior. São mensageiros, mediadores entre o consciente e o inconsciente.


Os sonhos têm por finalidade compensar unilateralidades e parcialidades da consciência, revelar problemas, atitudes, ações e reações do sonhador. Têm como objetivo oferecer os caminhos para a solução dos conflitos, fornecendo respostas criativas, inspirações. Estimulam também novos potenciais. São fonte de informações, orientação, conhecimento. Os sonhos também corrigem distorções, fazem advertências, sinalizam e prognosticam os perigos e conseqüências decorrentes de fixações em determinados estados de consciência limitantes. Eles permitem ainda, o resgate de memórias pessoais e coletivas bem como antecipar acontecimentos futuros, ( sonhos de percepção extra-sensorial).


Podem ser recorrentes, com temáticas repetitivas, o que significa que a mensagem que o sonho deseja revelar não foi ainda codificada. Referem-se a conteúdos que evitamos, não compreendemos ou ignoramos, ou que não fizemos nada para solucionar. O inconsciente insiste em oferecer oportunidades de consciência, enviando mensagens, procurando um símbolo mais acessível, e que o sonhador aceite . Uma vez que o conteúdo tenha sido integrado à consciência, deixa de ser repetido.


É característica dos sonhos expressarem-se em imagens e em linguagem simbólica. L. Stein ( junguiano 1973) nos esclarece que símbolo provém das palavras gregas sym, ou seja, comum , junto e balon, aquilo que foi lançado. Portanto símbolo refere-se a união de coisas que têm algo em comum. Também é definido como imagem significativa. Jung concebe símbolo como a melhor apresentação possível para um conteúdo psíquico relativamente desconhecido, que não pode ser descrito por uma única palavra ou idéia, que não está podendo ser compreendido e integrado à consciência. O que já foi plenamente decodificado e compreendido deixa de ser símbolo e torna-se sinal.


Os símbolos possuem uma dimensão individual e coletiva, universal. Costumam surgir em momentos de conflito ,de tensão entre opostos, quando nos sentimos perdidos ou confusos por não estarmos sabendo conduzir uma problemática interna ou externa. A função do símbolo é fornecer esclarecimentos sobre a situação presente, bem como soluções, através de sonhos, fantasias, imagens. Favorecem a síntese dos opostos, a integração de aspectos inconscientes. Têm portanto uma finalidade curativa, auto-reguladora e de amplificação de consciência.


Muitas pessoas atualmente já estão conscientes da importância e do valor dos sonhos e habituaram-se a anotá-los sistematicamente estando ou não em um processo psicoterápico. Muitos já se comportam diante dos sonhos de forma ativa. Antes de dormir fazem pedidos de sonhos anotando com bastante objetividade a pergunta que desejam ter respondida por ele. O desafio que se apresenta então, é interpretar os símbolos que podem surgir. No intuito de atender à essa necessidade muitas revistas, livros e dicionários têm se disponibilizado a introduzir, e orientar o leitor na interpretação, oferecendo significados que podem ser tomados por pesquisadores despreparados, como estanques, fixos, automatizados, e definitivos, descaracterizando assim a definição de símbolo.


É importante esclarecer aos leitores que buscam o auxilio de dicionários de símbolos que, interpretar é mais do que decodificá-los isoladamente. Interpretar pressupõe apreender e respeitar todo o contexto do sonho em seus detalhes, conhecer a situação consciente do sonhador na época em que ocorreu o sonho e ter acesso às associações por ele realizadas. Ainda que determinado símbolo possa sugerir um significado, cada indivíduo pode atribuir a este, um outro, bastante diferente e particular. As amplificações dos sonhos a partir das dimensões mais coletivas e universais dos símbolos podem ser valiosas, desde que efetuadas após o sonhador ter feito suas associações pessoais e desde que seja capaz de estabelecer a relação entre o símbolo coletivo e sua vida, no momento presente.


A análise de apenas um sonho, pode não fornecer muitos esclarecimentos. Por isso é interessante poder analisar uma série de sonhos. Pode-se então confirmar hipóteses ou fazer correções. Um teste para se saber se a interpretação funcionou é observando se possibilitou uma mudança na atitude consciente.


Na verdade a interpretação de símbolos quer em sonhos, fantasias ou imagens é facilitada quando se tem conhecimentos multidisciplinares, mas como nos esclarece Jung, a arte de interpretar prescinde de métodos, normas, e livros. Não podemos deixar de contar é com sensibilidade, com os nossos registros e conexões a partir da experiência de vida, intuição, criatividade, bem como disponibilidade e ousadia para adentrar no novo e desconhecido com respeito, e ética.


Dormir é a senha para o encontro consigo próprio, para a mobilização de energias curativas, para adentrar em inúmeros portais. Considerar e compreender os sonhos reflete uma atitude de acolhimento e respeito às mais variadas expressões e manifestações do ser, em todos os estados de consciência possíveis.


Denise Ribeiro Gonçalves
Psicóloga com formação em análise Junguiana
e psicologia Transpessoal
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Terapia fazer ou nao fazer?!!!! Eis a questão




Muita gente quando pensa em fazer terapia acaba se perguntando:

- Como eu sei que preciso de terapia?
- Qual o melhor momento para começar?
- Eu preciso estar sentido alguma coisa especifica?

Talvez, fazendo um raciocínio contrário fique mais fácil saber se uma terapia irá ajudar ou não. Em primeiro lugar é importante ter a consciência de que terapia não é "coisa pra maluco". O preconceito pode ser nosso maior inimigo. Ele pode limitar nossa visão sobre o mundo. Então, quando pensar em terapia, é fundamental deixar a mente aberta para ver além dos mitos sobre ela.
Saber os benefícios que uma terapia pode trazer, também é fundamental. Só assim você pode identificar se é isso mesmo o que você busca. Por isso, é extremamente importante pesquisar a respeito. Como por exemplo, pesquisar, através de alguém de confiança, um bom profissional.
Procurar identificar as diferenças entre os psi's pode ajudar a clarear as idéias. Assim fica mais fácil de reconhecer aquele profissional que você busca e qual deles você se identifica mais.
Buscando conhecer mais sobre os benefícios de uma psicoterapia fica mais fácil de identificar se isso será valido ou não. Estar interessado e interado sobre o assunto pode fazer bastante diferença.

Tem muita gente que procura um psicólogo porque o amigo ou alguém acha que ele precisa. Antes de qualquer coisa, quem tem que estar afim é a pessoa em si. Buscar porque os outros acham que você precisa pode não ter efeito desejado. Em uma terapia é preciso dedicação, comprometimento e responsabilidade. Por isso é preciso querer isso pra si.
Muita gente tem aquela idéia de que a terapia é uma sala com um divã, onde o cliente fica sentado olhando pra parede e que o terapeuta fica sentado em uma cadeira apenas ouvindo. Acham que vão falar milhões de coisas sobre suas vidas e quando esperar um retorno, vão ouvir apenas um "aham".
Nem todas as terapias são assim. Esse quadro clássico, que a maioria das pessoas tem em mente, é baseado na psicanálise. Os psicanalistas interferem pouco na fala do cliente, é a linha baseada diretamente nas teorias freudianas. A psicanálise tem suas ramificações, baseada em teóricos como de Jung e Lacan. Muita gente gosta desse tipo de terapia, mas outras pessoas preferem a troca.
Nas psicoterapias é mais comum encontrar essas trocas. O psicólogo fala mais, devolve a fala do cliente e, juntos, vão construído a terapia. Nessas psicoterapias, o psicólogo fala tanto quanto o cliente. Isso não quer dizer que o psicólogo só irá falar para fazer perguntas. Há uma interação importante entre terapeuta e cliente, envolvendo a fala de ambos.
O fato de um psicoterapeuta falar mais que um psicanalista não quer dizer que um seja melhor que o outro. É apenas uma questão de adaptação. Tem gente que prefere um do que o outro.
Chegar a um consultório e se sentir pressionado a falar sobre coisas pessoais para alguém que você nunca viu na vida, pode ser extremamente desconfortável. Então, como é que se começa uma terapia?

Uma questão fundamental dentro dela é a confiança, e como em qualquer relação, ela é conquistada aos poucos. Assim, naturalmente, o cliente vai se sentindo cada vez mais a vontade para falar de si. Aos poucos o psicólogo vai deixando de ser aquela figura desconhecida para ir se tornando alguém mais significativo.
Na nossa vida, é comum termos mais identificação com algumas pessoas do que outras. Em geral é com elas que nos sentimos mais confortáveis para nos abrir. No processo terapêutico não é diferente. Algumas pessoas sentem mais empatia com um determinado terapeuta do que com outro. Por isso é importante a questão da empatia. É fundamental se sentir bem com a pessoa que irá fazer o atendimento. Quanto mais confortável nos sentirmos, mais fácil será o desenvolvimento da confiança.

O primeiro contato com um terapeuta geralmente se dá pela primeira entrevista. Esse é um momento importante não só para esclarecer suas dúvidas sobre sua forma de trabalho, como também para perceber como você irá se sentir diante dele. É a oportunidade para verificar se aquilo que o psicólogo apresenta está de acordo com o que você quer.
Nessa primeira entrevista o cliente não é obrigado a firmar um compromisso. Ele tem toda liberdade para não gostar do que foi apresentado, buscar outras formas de trabalho ou simplesmente ter um tempo pra pensar.

Algumas pessoas podem ficar inseguras para o primeiro contato. É comum ficarem se questionando sobre o que vão falar, o que o psicóloga vai pensar delas ou com medo do que ele vai perguntar. O cliente não é obrigado a falar de nada que ele não queira e tem toda liberdade para colocar o seu limite. Esse primeiro contato é muito mais um momento de conhecimento entre as duas partes. Falando de uma forma mais sintética: é onde acontece às apresentações.
Se ainda existem dúvidas sobre fazer terapia ou não, a primeira entrevista pode ser importante para a decisão. Não é preciso ficar inseguro diante dela, o psicólogo é treinado para lidar com a situação. Tendo em mente que, mesmo fazendo um primeiro contato o cliente não precisa se comprometer logo de cara, a pressão de ter que fazer a terapia diminui. Assim, esse primeiro momento se torna apenas um dado adicional para uma boa escolha.
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Rosas, Prostitutas, Santas e Princesas: Expressões da Feminilidade



Por Angelita Corrêa Scardua


A Rosa é a flor mais presente nos Contos de Fada, seja como figura de fundo ou como elemento essencial à estória. Podemos encontrar a Rosa em contos como “As Fadas(Sapos e Diamantes)”, “A Bela e a Fera”, “A Bela Adormecida no Bosque”, “Rapunzel”, “A Pequena Polegarzinha” e muitos outros. Em geral, nos contos em que a Rosa aparece, a protagonista é uma jovem mulher, uma donzela prestes a ser “descoberta” pelo olhar/desejo masculino. A moça em questão é, quase sempre, cheia de potencialidades das quais ela mesma não tem consciência. É o encontro com o outro – com o Masculino – que a faz perceber o seu valor como mulher. Em todos esses contos a beleza, a sedução, a paixão e o encantamento são o mote da estória.

Para entendermos o porque disso – o porque de a Rosa estar associada a esse despertar consciente para o potencial feminino, de seduzir e encantar – precisamos retomar o significado simbólico da Rosa na cultura ocidental. Durante a Idade Média, os estudos alquímicos associavam a Rosa ao órgão sexual feminino. Diversos registros poéticos, literários, folclóricos e artísticos da época oferecem essa analogia, sendo que todas elas apontam para as características físicas da flor. Dentre essas, podemos destacar o tom encarnado da Rosa vermelha, que é a mais comum. Interessante lembrarmos que a cor vermelha é, historicamente e simbolicamente, associada ao feminino em função da relação entre o sangue e as funções características do corpo da mulher: a menstruação e o parto. Outras características, utilizadas simbolicamente para aproximar a Rosa e o órgão sexual feminino, seriam: a textura aveludada/macia e a carnosidade de suas pétalas,;a afinidade dessa flor com as estações mais quentes e a umidade da terra; seu perfume intenso e marcante e, finalmente, pelo seu formato de pétalas arredondas que se fecham, formando um núcleo secreto, escuro e molhado. A associação entre o botão de Rosa e o segredo permeou todo o Imaginário medieval. Um costume comum, era o de colocar uma Rosa no teto da sala de reuniões, indicando que os assuntos deveriam ser mantidos em segredo. Desse hábito, origina-se o costume arquitetônico de sancas e tetos adornados com motivos rosáceos.

Um aspecto interessante, dessa associação entre o feminino e a Rosa, é que essa flor sempre esteve associada às Deusas do amor e da fertilidade e, em especial, à figura de Vênus/Afrodite, a Deusa protetora das Hetairas. As Hetairas formavam uma interessante classe social na antiga Grécia, elas eram cultas, versadas em política, filosofia e artes, além de serem treinadas para usufruírem da sedução e do sexo livremente. Eram mulheres escolhidas por sua beleza e talentos, que eram cultivados e lapidados constantemente. Entre os conhecimentos dominados pelas Hetairas, estava a elaboração de perfumes, cosméticos, óleos, poções amorosas e afrodisíacos – nome derivado de Afrodite – que eram utilizados em suas atividades como “sacerdotisas” do amor. Acredita-se que esse tipo de sacerdócio feminino, ligado à Prostituição Sagrada ou equivalente, tenha sido recorrente na antigüidade. Podemos encontrar referências à prostituição sagrada que remetem a Suméria, a Índia, ao Egito e a outras civilizações do passado remoto.

Essa forma de prostituição, não se adequa ao sentido que hoje damos a palavra. Em verdade, essas Prostitutas Sagradas eram educadas para serem “veículos” mortais da alegria e do êxtase divinos das divindades Femininas, e especialmente, estavam ligadas à iniciação dos homens nos mistérios das Deusas do Amor. O papel da prostituta sagrada era, portanto, servir de veículo para o poder de uma divindade feminina – esse é o equivalente mítico da figura do Rei como veículo, de “aporte”, para o poder das divindades solares. Essa ligação das divindades femininas com a sexualidade, e a sua vivência como parcela fundamental da vida, pode ser encontrado em Deusas como Bast ou Hator no Egito, Inanna na Suméria, Ishtar na Babilônia, Afrodite na Grécia, Vênus em Roma, e Freya na Escandinávia.

A prostituta sagrada também era vista como inspiração para a virilidade masculina. Do ponto de vista psicológico, essa sacerdotisa do amor exerceria o papel de Ânima, ou imagem da alma, que desperta o homem, fazendo com que ele descubra sua potência e sua capacidade de amar e ter prazer. Simbolicamente, ao tornar-se a personificação do objeto divino de desejo e uma fonte de prazer, a prostituta sagrada servia como uma espécie de “gerador” de força vital e criadora dos homens. Aqui, vale ressaltar dois aspectos: o primeiro é esse aspecto gerador e criador, associado à figura feminina que, de certa forma, está na raiz do uso místico da Rosa como símbolo espiritual da vida, da sabedoria e da criação. O segundo aspecto, diz respeito à figura feminina como Ânima, que está na raiz das figuras de princesas dos contos de fada, e das estórias de aventura e fantasia, da Pequena Sereia à Princesa Léia de Guerra nas Estrelas.

Em “A Bela e a Fera“, por exemplo, a Rosa é elemento de destaque, como também o é em “A Bela Adormecida”, e em “Rapunzel” . Nessas estórias, as heroínas “resgatam” seus amados da inércia, e da imobilidade de um mundo ordenado e triste. Em “A Bela Adormecida“, um Príncipe indolente, atraído pelo amor, enfrenta uma terra inóspita e devastada pelo tempo, mergulhada no silêncio e na escuridão, se embrenha na floresta desconhecida, luta contra o dragão e encara a muralha de rosas e espinhos venenosos que protege o leito da princesa, a ser despertada. Em “A Bela e a Fera“, é o amor da mais bela que traz de volta o príncipe aprisionado no corpo monstruoso da Fera, enclausurado num castelo lúgubre e triste, que se enche de luz e melodia ao entrar em contato com a força transformadora da Bela, num jardim florido de Rosas. Em “Rapunzel”, os espinhos das roseiras que protegem a torre – na qual a moça está aprisionada – cegam o príncipe quando ele é atirado da janela pela bruxa, forçando a jovem a lutar contra o aprisionamento, e a sair para o mundo em busca do seu amor perdido, restaurando-lhe a visão e o sentido da vida.

As princesas dos contos de fadas, não são moças belas e prendadas por um simples capricho de uma cultura machista, como querem muitos detratores da fantasia. Dotadas de encanto anormal, sobrehumano, as princesas dos Contos de Fada são a personificação de uma parte essencial do poder feminino, presente nas imagens arquetípicas das deusas do amor. Tais deusas, são ligadas à vaidade, ao cuidado do próprio corpo e à exacerbação dos sentidos. Em última instância, elas falam de auto-estima e amor próprio, falam de amar a si mesmo antes de servir de veículo para a alegria e o êxtase do outro. É por essa razão, que as prostitutas sagradas se entregavam aos cuidados laboriosos do corpo, à manipulação de cosméticos e fragrâncias, ao exercício da arte e do conhecimento. Ou seja, elas dedicavam grande parte de suas vidas a se tornarem pessoas mais belas e mais sábias. Imagens que até hoje associamos à alma humana: beleza e sabedoria!

Essas diferentes representações do poder arquetípico do feminino – que é o poder da Ânima – , encontradas nos contos de fadas, nos falam também do poder simbólico da Rosa. Vimos que, historicamente, a Rosa está indelevelmente associada à sexualidade, possuindo um significado místico como ponto de contato entre os homens e o divino feminino. Assim, a Rosa foi atravessando os séculos, ocupando no nosso imaginário o lugar de símbolo da feminilidade. Inúmeros são os mitos sobre a Rosa, e o significado do amor associado à essa flor pode ser tanto espiritual quanto carnal, virginal ou sexual. Tanto é que a Rosa, uma flor consagrada a muitas deusas da mitologia pagã, foi também adotada pelo cristianismo como o símbolo de Maria. As rosáceas das catedrais góticas foram dedicadas a Maria, como emblema do feminino em oposição à cruz (emblema cristão do masculino). Os rosários originais eram feitos com pétalas de rosa. A palavra “rosário” deriva do latim “rosarium”, que significa roseiral.

Ainda, sobre os mitos que envolvem a Rosa e sua ligação com o feminino: no antigo Egito, consagrava-se a Rosa a Ísis, deusa associada à maternidade e ao casamento, que era retratada com uma coroa dessas flores. Para os romanos, as rosas eram uma criação da suave Flora, deusa da primavera e das flores. Quando uma das ninfas da deusa morreu, Flora a transformou em flor e pediu ajuda aos outros deuses. Apolo deu a vida, Bacus o néctar, Pomona o fruto; as abelhas sentiram-se atraídas pela flor, e quando Cupido atirou suas flechas para espantá-las, se transformaram em espinhos e, assim, segundo o mito foi criada a Rosa. Na tradição Hindu, a deusa do amor Lakshmi, nasceu de uma Rosa. Para os indianos, a Rosa é o símbolo da beleza e da pureza, perfeição em todos os sentidos. Mais, conta certa versão da Mitologia Grega que, quando a luz desfez o caos e os deuses passaram a governar o mundo, as divindades concederam à Terra suas graças, brotadas sob formas vegetais, recobrindo de florestas e jardins os vales e as montanhas e depositando no fundo do mar variada flora. Cada deus e cada deusa escolheu para sua proteção, de acordo com sua preferência, Árvores, Flores, Ervas e Frutos. Afrodite escolheu para si as flores e os frutos mais perfumados e de cores mais vivas, concedeu-lhes perfumes extasiantes e sabores adocicados. As plantas de Afrodite produzem secreção agradável ao paladar, são ricas em óleos vegetais e aromas intensos, porque é do agrado da deusa os prazeres da mesa, e o preparo de cosméticos para o embelezamento do corpo.

Durante séculos, os povos do Mediterrâneo renderam honras a Afrodite usando suas dádivas vegetais na culinária, na magia e na cosmética. Essa prática ritualística, de associar à propriedade dos vegetais os atributos dos deuses, desapareceu nos primeiros séculos da Idade média, mas foram os monges medievais que ressuscitaram a Arte do uso da Rosa, por exemplo, na culinária. Posteriormente, as mulheres enclausuradas nos conventos aprimoraram as receitas de doces, geléias, cremes, pétalas confeitadas e licores perfumados pela graça dessa flor. Ao mesmo tempo, a Europa medieval sofria a influência dos invasores Árabes na península ibérica, o que ajudou a difundir a utilização da Rosa na culinária e na cosmética. Os Árabes são hábeis na utilização da Rosa, seja como óleo essencial ou aromatizador de doces.

Hildegard von Bigen, a freira alemã que era música e filósofa e viveu no século XII, da era medieval, foi também uma grande herbalista. Sua obra inclui inúmeras receitas de uso medicinal das plantas. Para Hildegard, a Rosa possuiria a capacidade de equilibrar a energia dispersada e conturbada pela raiva, a irritação e os sentimentos belicosos. Entre as suas receitas, se encontra a de um pó feito de pétalas de rosas, que deveria ser utilizado para acalmar e tranqüilizar pessoas coléricas. É válido retomarmos aqui a idéia de que Afrodite foi a única mulher a acalmar a cólera de Ares, o deus da guerra. Coincidência ou não, a fórmula de Hildegard é imbuída de significados arquetípicos. Além disso, vale ressaltar o caráter “iluminador” da Rosa - que vimos anteriormente representado pela Ânima nos Contos de Fada -, capaz de levar os homens a ter contato com o poder feminino, adormecido no inconsciente masculino, que desperta e alimenta o desejo e a capacidade de se entregar, e comprometer-se com, as próprias emoções e as dos outros.
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Anima e Animus




Para a Psicologia Analítica, o arquétipo da anima (termo em latim para alma),constitui o lado feminino no homem, e o arquétipo do animus(termo em latim para mente ou espírito), constitui o lado masculino na psique da mulher. Ambos os sexos possuem aspectos do sexo oposto, não só biologicamente, através dos hormônios e genes, como também, psicologicamente através de sentimentos e atitudes.

Sendo a persona a face externa da psique, a face interna, a formar o equilíbrio são os arquétipos da anima e animus. O homem traz consigo, como herança, a imagem de mulher. Não a imagem de uma ou de outra mulher especificamente, mas sim uma imagem arquetípica, ou seja, formada ao longo da existência humana e sedimentada através das experiências masculinas com o sexo oposto.
Cada mulher, por sua vez, desenvolveu seu arquétipo de animus através das experiências com o homem durante toda a evolução da humanidade.

Embora, anima e animus desempenhem função semelhante no homem e na mulher, não são, entretanto, o oposto exato. Segundo Humbert, “Anima e animus não são simétricos, têm seus efeitos próprios: possessão pelos humores para a anima inconsciente, pelas opiniões para o animus inconsciente.”

A anima, quando em estado inconsciente pode fazer com que o homem, numa possessão extrema, tenha comportamento tipicamente feminino, como alterações repentinas de humor, falta de controle emocional.

Em seu aspecto positivo a anima, quando reconhecida e integrada à consciência, servirá como guia e despertará, no homem o desejo de união e de vínculo com o feminino e com a vida. A anima será a “mensageira do inconsciente” tal como o deus Hermes da mitologia Grega.

A valorização social do comportamento viril no homem, desde criança, e o desencorajamento do comportamento mais agressivo nas mulheres, poderá provocar uma anima ou animus subdesenvolvidos e potencialmente carregados de energia, atuando no inconsciente.

Um animus atuando totalmente inconsciente poderá se manifestar de maneira também negativa, provocando alterações no comportamento e sentimentos da mulher. Segundo Jung: “em sua primeira forma inconsciente o animus é uma instância que engendra opiniões espontâneas, não premeditadas; exerce influência dominante sobre a vida emocional da mulher.”

O animus e a anima devidamente reconhecidos e integrados ao ego, contribuirão para a maturidade do psiquismo. Jung salienta que o trabalho de integração da anima é tarefa difícil. Diz ele: “Se o confronto com a sombra é obra do aprendiz, o confronto com a anima é obra-prima. A relação com a anima é outro teste de coragem, uma prova de fogo para as forças espirituais e morais do homem. Jamais devemos esquecer que, em se tratando da anima, estamos lidando com realidades psíquicas, as quais até então nunca foram apropriadas pelo homem, uma vez que se mantinham foram de seu âmbito psíquico, sob a forma de projeções.”

Anima e animus são responsáveis pelas qualidades das relações com pessoas do sexo oposto. Enquanto inconscientes, o contato com estes arquétipos são feitos em forma de projeções.

O homem, quando se apaixona por uma mulher, está projetando a imagem da mulher que ele tem internalizada. É fato que a pessoa que recebe a projeção é portadora, como dizia Jung, de um “gancho” que a aceita perfeitamente. O ato de apaixonar-se e decepcionar-se, nada mais é do que projeção e retirada da projeção do objeto externo. Geralmente o que se ouve é que a pessoa amada deixou de ser aquela por quem ele se apaixonou, quando na verdade ela nunca foi, só serviu como suporte da projeção de seus próprios conteúdos internos.

Para o homem a mãe é o primeiro “gancho” a receber a projeção da anima, ainda quando menino, o que se dá inconscientemente. Depois, com o crescimento e sua saída do ninho, o filho vai, aos poucos, retirando esta projeção e lançando-a a outras mulheres que continua sendo um processo inconsciente. A qualidade, do relacionamento mãe-filho, será essencial e determinará a qualidade dos próximos relacionamentos, com outras mulheres. Salienta Jung: “Para o filho, a anima oculta-se no poder dominador da mãe e a ligação sentimental com ela dura às vezes a vida inteira, prejudicando gravemente o destino do homem ou, inversamente, animando a sua coragem para os atos mais arrojados.”

Jung define projeção da seguinte forma: “um processo inconsciente automático, através do qual um conteúdo inconsciente para o sujeito é transferido para um objeto, fazendo com que este conteúdo pareça pertencer ao objeto. A projeção cessa no momento em que se torna consciente, isto é, ao ser constatado que o conteúdo pertence ao sujeito.”
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Projeção e Relacionamentos

Escrito por Jane Eyre de Melo

O mundo que se encontra à nossa volta, e o que se encontra dentro de nós mesmos, é contínuo. Não existem definidas demarcações da realidade.No entanto, somos forçados a um pensar linear e acabamos por pensar a realidade numa sucessão de seqüências, de causa e efeito. Podemos observar então, que uma árvore só é uma árvore, se a isolarmos do resto da floresta, pois na verdade, originalmente, ela é parte integrante do todo. Assim, só somos também uma entidade separada, porque nosso ego nos isola do resto da humanidade.

O mito de Adão e Eva, isso antes do “pecado” enquanto no paraíso, é uma imagem simbólica de um estágio primitivo original, onde não somos capazes de identificar quais conteúdos nos pertencem e quais são propriedades do outro, porque o outro, inexiste, é como um continuum de nós mesmos. Nesse estágio, o inconsciente é soberano. E nesse relacionamento com o inconsciente, todos aqueles conteúdos que não conseguimos acessar, mas que lá se encontram, sofrem um processo de tentativa de busca de reconhecimento através de um mecanismo inconsciente chamado projeção.Esse é um mecanismo automático, pelo qual os processos de nosso inconsciente, são percebidos nos outros e não em nós, eles ilusoriamente lhes pertencem. Freud foi quem primeiro utilizou o termo projeção. Depois dele, Jung, só que reinterpretado. Para ele, a projeção é um fenômeno psicológico verificável, e a principio no cotidiano de todas as pessoas. Estamos sujeitos em nossas concepções acerca de outras pessoas e circunstâncias, a erros freqüentes de julgamentos. Uma transferência inconsciente onde involuntariamente a pessoa transfere um fato psíquico e subjetivo para um objeto exterior. E vê nesse objeto, alguma coisa que na verdade ele não possui, ou que se possui, só que em menor intensidade.E seguimos, vida afora, formulamos conceitos errados ou critérios de julgamento errados, sejam eles positivos ou negativos, em relação a uma pessoa ou uma idéia, só que inconsciente, aquele que gera as projeções também se esforça no sentido de corrigi-las, é como um fator interno no indivíduo, que faz com que ele corrija de tempos em tempos, a sua imagem de realidade.

O fato é que, acabamos projetando de maneira destemida e ingênua, nossa própria psicologia sobre os semelhantes. Conseguimos, assim, uma série de relacionamentos mais ou menos imaginários que se apóiam em tais projeções.E é na esfera afetiva que nossas projeções alçam vôos mais altos. Carotenuto, em suas teses sobre o amor, afirma que um relacionamento é regido por uma necessidade patológica de cada um dos parceiros e que sendo assim, todo amante representa a enfermidade do outro. Esse pensar nada romântico, baseia-se num fato real: todos projetamos. O estado de ser apaixonado, por si só, altera nossa relação com a consciência e com o inconsciente, que vai projetar no outro tudo aquilo que nos é interior e subjetivo, para que nós o encontremos no outro, ou por nós mesmos.

Na paixão, o que nos liga indissoluvelmente ao outro é a nossa sombra, que vemos projetada no objeto amado, retorna ela mesma, o objeto da nossa paixão. A dimensão amorosa, com sua cara de rompimento transgressivo, abaixa os níveis de nossa consciência, criando um espaço, o espaço psicológico do casal, em que tudo é lícito. É verdade, o amor nos torna livres, livres para manifestar sem inibições não apenas o próprio lado emocional, mas também a própria inclinação ao negativo, aquela que com sugestivo termo junguiano é chamada de sombra.

A projeção por ser um fenômeno pré-consciente, involuntário e independente da consciência, também se faz representar nos mitos de várias culturas. O mito de Eros é uma clara alusão ao fenômeno da projeção. Na mitologia hindu, o deus Käma, também se apresenta armado de arco e flecha. Um dos mais antigos simbolismos da projeção é aquele projétil, ou melhor, da flecha ou disparo mágico. As lanças, as setas simbolizam a “direção” para onde vai nossa energia psíquica. As setas de deus Eros são as acusadoras da comoção repentina, a paixão amorosa. Se nos tornamos alvo de uma projeção negativa de alguém, sentimos de uma maneira quase física, como sendo atingidos por um projétil, constituído por seu ódio. A projeção amorosa é detentora de uma enorme carga emocional. As palavras, as chacotas atingem o outro como projeteis, e simbolizam correntes de energia psíquica negativa projetadas sobre o outro.

O surgimento de projeções afinal parece sempre ser provocado por arquétipos e complexos do inconsciente. A ação desse espírito ou arquétipo invasor, também na dimensão amorosa é vivida como se uma flechada ou o ato de ser atingido por um raio. O raio é efetivamente, um símbolo, no bom ou no mal sentido, de um arrebatamento repentino por uma paixão.

Nessa viagem misteriosa através do amor cada um encontra o outro e, por trás do outro, a si mesmo. Todo discurso sobre o outro se torna, então, um discurso de si mesmo, a confissão mais íntima. A experiência parece dizer-nos que é a proximidade que provoca a perturbação; alguém ou alguma coisa para qual o olhar se dirige, nos cativa. Mas na verdade, o amor vive e se alimenta do que acontece em nós, da nossa interioridade. É interessante que se observe que tanto mais forte é a projeção, quanto menos conhecermos a dimensão do outro. É o próprio desconhecimento do outro, que faz com que nós possamos preenchê-lo, recheá-lo com dimensões interiores nossas.

No desconhecimento, o inconsciente se constela. Muitos homens e mulheres sabem disso e por isso mesmo se manifestam por meias palavras, por um não-dizer que deixam lacunas que acabam sendo preenchidas pelo outro. E aí, esse outro se envolve e se apaixona por si mesmo, pois aquilo que o outro, o misterioso evocou, são partes suas, desconhecidas, agora, reconhecidas no outro, lhe possibilitam a sensação de integralidade, de completude. Só que o outro, por estar preenchido por nós mesmos, nos “faz falta”. A sua ausência é a lembrança de nosso sentimento de estar em falta, de nossa própria incompletude. É por estarmos nele, o poder que exerce sobre nós é enorme, pois precisamos dele, intuímos que só por seu intermédio seremos inteiros.

É o tema doloroso e eterno da destruição das aparências. Estas são as escoras que nos sustentam na vida; devemos enganar-nos sobre o que fazemos, sobre o amor que vivemos, sobre a importância que pensamos ter no mundo, para podermos sobreviver...Dizia Novalis que o engano, é essencial para nossa alma: devemos poder nos iludir, porque só mediante os erros caminhamos para aquilo que chamamos verdade. Se não temos sonhado continuamente no percurso da dimensão amorosa, a nossa realidade de seres que subjetivamente se põe diante do outro não poderá emergir, porque trocaremos pelo verdadeiro e real algo que não corresponde a nós. A única coisa em que podemos autenticamente reconhecer é a nossa individualidade psíquica que cria a realidade do amor.

A retirada e a integração das projeções é, pois, uma questão delicada, cujo tratamento exige muito tato por parte do terapeuta. A pergunta se o Eu da pessoa analisada pode realmente suportar os efeitos colaterais após o esclarecimento de uma projeção, deverá estar sempre presente. Essa integração acontece quando um conteúdo psíquico mantido inconsciente passa a fazer parte do EU consciente, e começa a ser entendido como fazendo parte integrante do todo. Esses conteúdos, no entanto jamais poderão ser integrados na sua totalidade, pois jamais se consegue reconhecer todo o material projetado, uma vez que ele sempre é composto de material arquetípico e dos conteúdos do inconsciente coletivo, que não podem ser integrados ao individuo, à consciência do Eu. Esse conteúdo não integrável sofre então um deslocamento, que costuma ser denominado deslocamento das projeções, e aparece novamente projetado, após um período de latência do inconsciente, sobre um outro objeto. Certa vez, Jung relacionou o complexo do Eu com um homem pescando e navegando em seu barco (seus pressupostos conscientes ligados a sua concepção de mundo) no mar do inconsciente. Ele não pode sobrecarregar o barco com peixes das profundezas (conteúdos inconscientes), além o que é capaz de agüentar, senão afunda.



Bibliografia:

Aldo Carotenuto: Eros e Pathos, Amor e Sofrimento.
James Hall: A experiência junguiana
Mario Jacobi: O encontro analítico
Marie Louise von-Franz: Espelhos do Self.
Marie Louise von-Franz:.Adivinhação e Sincronicidade.
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A felicidade somente é real quando compartilhada.




A frase talvez seja a última escrita pelo jovem Chris McCandless em um ônibus abandonado no extremo Alasca, nos Estados Unidos. A história de Chris é o retrato da busca mais elementar do ser humano: alcançar – sabendo ou não ser uma utopia – o estado permanente de liberdade.

Três anos da vida de McCandless são acompanhados pelas lentes de Sean Penn, no filme “Na Natureza Selvagem” (Into the Wild, 2007). Chris era um jovem de classe média alta, recém-formado em uma escola respeitável e com provável ingresso na Universidade de Harvard. Possuía, inclusive, uma poupança que permitiria a ele custear parte dos estudos longe de casa.

Logo após a formatura, Chris doa a poupança a uma instituição e, sem avisar a família, segue em viagem pelos Estados Unidos em um velho carro. O veículo é abandonado e ele se transforma em um andarilho com uma meta definida: chegar ao Alasca e viver da natureza.

O que ele buscava? Quais motivações levaram o rapaz de 20 anos deixar o passado e todos os contatos sociais para trás? Chris se transformou em Alexander Supertramp, o que incluiu incinerar dinheiro e documentos.

A trajetória do jovem norte-americano no cinema é uma adaptação do livro de mesmo nome, escrito pelo jornalista Jon Krakauer. Ele é autor também de “No ar rarefeito”, sobre uma expedição mal sucedida ao Monte Everest, e “Pela Bandeira do Paraíso” (todos pela Companhia das Letras), sobre o grupo de mórmons que ainda praticam a poligamia nos Estados Unidos e Canadá.

A reportagem de Krakauer, de primeiro nível, recebeu uma adaptação à altura. Penn – ao lado de George Clooney – é um ator que resolveu ir para trás das câmeras e produzir obras reflexivas, que retratem a cultura norte-americana por meio de personagens políticos, conscientes de suas ações e fora dos padrões tradicionais das grandes cidades. Penn radiografa uma sociedade norte-americana normalmente desprezada, anônima, distante do glamour e das preocupações tradicionais da vida contemporânea.

A posição dele pode ser notada em três fatores. O primeiro é a passagem do tempo. A narrativa não-linear informa ao espectador o passado de Chris McCandless e possibilita especular sobre as reais motivações do protagonista. O caminho é lento, poético, calcado nos detalhes da narrativa, nos pormenores dos sujeitos que passam pela vida do jovem ao longo de dois anos como andarilho.

A trilha sonora, que tem as mãos, o cérebro e a voz de Eddie Vedder, vocalista da banda Pearl Jam, serve como suporte para as tortuosidades desta estrada. A música, obviamente primordial para um filme, torna-se personagem pela força do casamento melodia-letra. Legendas auxiliam o espectador a compreender a plenitude da proposta. A trilha é um novo narrador para a história.

Além disso, o protagonista, interpretado por Emile Hirsch (de Alpha Dog e Speed Racer), repetidamente olha para a câmera, como se permitisse, autorizasse que acompanhássemos sua busca individual. Abandonar tudo representava um rompimento com o passado familiar, de status e normas sociais, mas sem significar uma quebra com o modo de vida social. A dependência do reconhecimento alheio o acompanha.

Esta postura fica clara na relação de McCandless com os vários personagens ao longo da viagem. É o momento em que Sean Penn opta por retratar as várias identidades de um país com grandes dimensões. Desta forma, o entendimento de uma cultura funciona pela voz, pelos gestos, pelos hábitos de sujeitos anônimos, aparentemente satisfeitos com as escolhas que fizeram na vida.

O casal de hippies, Rainey (Brian Dekker) e Jan (Catherine Keener), funciona como segundos pais para o jovem, indica o que poderia ser o futuro dele e como seria possível – com os obstáculos específicos e proporcionais – manter uma vida itinerante, sem conexões com os processos de consumo e até de cidadania.



Mas o que impressiona é a atuação de Hal Holbrook, na época com 83 anos, que interpreta um solitário veterano de guerra. Ele e McCandless agem reciprocamente no sentido de dar novo significado para as relações humanas, reforçando a obsessão de encontrar no outro alicerces para decisões solitárias. Assista com cuidado ao diálogo de despedida no carro. Holbrook recebeu indicação ao Oscar por melhor ator coadjuvante.

O filme de estrada de Penn também desnuda a hipocrisia da instituição familiar, aquela construída pela sociedade norte-americana a partir a Segunda Guerra Mundial e que integra o American Way of Life. A famosa família das propagandas de margarina!!! Isso não significa que o filme seja um panfleto pelo fim da ordem familiar. Pelo contrário, Na Natureza Selvagem defende a força dos grupos sociais, porém construídos também de formas alternativas, sem a necessidade inquestionável do sangue como única referência.

A busca de Chris McCandless, que resulta na ânsia por viver livremente, exige um alto preço. Para o jovem que abandonou uma vida em troca de outra, a chave do negócio é ter a chance de decidir quanto se quer apostar em um estilo de vida, sem julgamentos alheios. A tal da felicidade de forma compartilhada.
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Adotar é tudo de bom

Gentileza Gera Gentileza

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